Na infância, perguntei à minha mãe o que eram símbolos. Ela respondeu que são coisas pequenas que falam sobre coisas grandes. Adoto a definição.
É bom prestar atenção nas coisas pequenas. Elas parecem pequenas, mas, às vezes, são muito maiores do que as coisas grandes.
Lembrei disso quando Pablo Marçal levou uma cadeirada de Datena durante o debate realizado domingo (15) pela TV Cultura de São Paulo.
O grande – e inaceitável – foi a cadeirada. Mas houve algo pequeno, que muita gente nem notou, e é nessa coisa pequena que está o verdadeiro símbolo.
Pablo Marçal, candidato de extrema-direita que disputa a prefeitura de São Paulo com chances de ir para o segundo turno, chamou Datena de “Jack”.
Datena, que disputa lá atrás, sem chance alguma, entendeu o xingamento, e foi isso que o levou a sair do seu púlpito e dar uma cadeirada no adversário.
O jornalista que fez a mediação não sabia o que é “Jack”. Nem a produção do programa sabia. Muito menos a gente que assistiu ao debate da TV Cultura.
Pois bem. “Jack” é gíria de cadeia. “Jack” é gíria de presídio. “Jack” é linguagem de bandido. “Jack” é o cara que pratica violência sexual. “Jack” é estuprador.
Pablo Marçal sabe o que é “Jack”. Datena também sabe o que é “Jack”. Marçal quis ofender Datena, e Datena entendeu o tamanho da ofensa.
Em São Paulo, a maior cidade brasileira, um candidato a prefeito que almeja a liderança da extrema-direita no país chama o outro de “Jack” durante um debate na TV.
“Jack”. É um símbolo. É uma coisa pequena que fala sobre uma coisa grande. É quando a política atinge o fundo do poço.