A violência da ditadura militar durante uma manifestação popular no Rio de Janeiro. O ano, 1968. A fotografia é antológica. É símbolo de um tempo.
Muita gente conhece essa imagem. Poucos sabem quem é o seu autor. Evandro Teixeira, que fez a foto, morreu nesta segunda-feira, 04 de novembro de 2024.
Evandro Teixeira tinha 88 anos e morreu das complicações de uma pneumonia. Baiano nascido em 1935, era um mestre absoluto do fotojornalismo brasileiro.
Antes da pandemia, numa manhã de sábado, Evandro Teixeira chegou lá em casa levado pela fotógrafa paraibana Germana Bronzeado. Estava em João Pessoa dando um curso de fotojornalismo a convite de Germana, que era sua amiga.
Evandro Teixeira, com a máquina em punho, sentou no chão do terraço e fotografou meus beagles. Fotos que eu nunca recebi. Mas o que ficou na minha memória afetiva foi o gesto dele: Evandro sentado no chão fazendo fotos dos meus cachorros.
Evandro Teixeira fotografou a violência da ditadura militar nos protestos de 1968 e a passeata dos 100 mil nas ruas do Rio de Janeiro. Também fotografou a deflagração do golpe militar na madrugada de primeiro de abril de 1964.
É dele a imagem de João Goulart e Maria Thereza no histórico comício da Central do Brasil. Era 13 de março de 1964, uma sexta-feira. Jango anunciava as reformas de base sem imaginar que estava a apenas 19 dias de ser deposto.
Evandro Teixeira cobriu para o Jornal do Brasil o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende no Chile, em setembro de 1973. Evandro conseguiu entrar no Estádio Nacional, onde os militares torturaram e mataram centenas de chilenos.
Evandro Teixeira foi o único fotógrafo que entrou no hospital onde morreu Pablo Neruda, 10 dias depois do golpe no Chile. Evandro fotografou o poeta morto.
Conversar com Evandro Teixeira era ouvir essas histórias. Ele testemunhou e fotografou pedaços muito importantes da história da segunda metade do século XX.
Evandro Teixeira também fotografou celebridades. O Rei Pelé com a Rainha Elizabeth. Tom Jobim, Dorival Caymmi e Leila Diniz. O poeta Drummond sentado no chão do apartamento onde morava. A piscadela de Ayrton Senna.
Evandro Teixeira era um mestre do seu ofício, o fotojornalismo. A palavra mestre lhe cai bem. Houve poucos como ele. Milhares de imagens – esse é seu legado.
A noite do golpe militar de 1964.
O comício de Jango na Central do Brasil.
O poeta Pablo Neruda morto.
Drummond sentado no chão.
A piscadela de Ayrton Senna.