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Golpe de Sorte em Paris não é um grande Woody Allen, mas é boa diversão

Foto/Divulgação.

Os grandes filmes épicos de 70, 60 anos atrás – Os 10 Mandamentos, Ben-Hur, El Cid, Exodus – se estendiam por mais de três horas, se aproximavam das quatro horas de projeção. No meio da sessão, havia até um intervalo para dar um descanso ao público.

O musical A Noviça Rebelde, grande êxito comercial e vencedor de Oscar nos anos 1960, era um que não cansava a plateia com suas quase três horas de duração.

A trilogia de O Poderoso Chefão é composta por filmes que têm em torno de três horas. Em sua versão estendida, Apocalypse Now, outro clássico dirigido por Francis Ford Coppola, prende o espectador à poltrona por mais de 200 minutos.

Martin Scorsese gosta cada vez mais de filmes longos. Se, em 1990, Os Bons Companheiros tinha duas horas e meia, e, em 2013, O Lobo de Wall Street tinha três, os recentes O Irlandês e Assassinos da Lua das Flores se aproximam das quatro horas.

É muito frequente, hoje em dia, que os filmes tenham duas horas e meia de projeção. Oppenheimer, último vencedor do Oscar, tem três.

A lembrança dos filmes longos me ocorre sempre que vejo um filme de Woody Allen. É que ele faz o inverso. Seus filmes são curtos. O mais extenso de que me recordo, Match Point, mal passa dos 120 minutos.

Tome os clássicos de Allen – Annie Hall, Manhattan, Hannah e Suas Irmãs – como exemplos. O tempo de projeção gira em torno dos 90, 100 minutos. Se Zelig não tem 80, A Rosa Púrpura do Cairo não alcança os 90. Mais recentes, Vicky Cristina Barcelona e Meia-Noite em Paris ficam entre os 90 e os 100 minutos.

Filmes curtos. Isso nem sempre é mencionado, mas faz parte da fórmula de Woody Allen. É interessante, funciona bem. Como se ele não soubesse fazer filmes longos.

No início e no fim, créditos brancos sobre um fundo preto. Também faz parte da fórmula. Bem como a sobreposição da fala sobre a ação e as trilhas com muitos temas jazzísticos. Tudo isso identifica o cinema de Woody Allen.

Em Golpe de Sorte em Paris, a música que marca o filme vem do jazz dos anos 1960. É Cantaloupe Island, de Herbie Hancock. Quem conhece jazz sabe que é um clássico e não deixa de prestar atenção. Tem o piano de Hancock, o trompete de Freddie Hubbard, o contrabaixo de Ron Carter e a bateria de Tony Williams. É superb.

Depois de filmar por tantos anos em sua Nova York e de ser cancelado por causa das acusações de assédio sexual, Woody Allen foi para a Europa. Encontrou financiamento em troca de filmes que, no fundo, divulgam as cidades onde são realizados. Woody Allen misturou cinema com turismo.

Golpe de Sorte em Paris é seu quinquagésimo filme. Pode ser o último. Woody Allen vai fazer 89 anos em novembro e confessa que está cansado e sem paciência para correr atrás de quem banque seu trabalho.

Golpe de Sorte em Paris não é um grande Woody Allen, como são Match Point e Meia-Noite em Paris. Nem é ruim como Um Dia de Chuva em Nova York. Golpe de Sorte em Paris é um Woody Allen mediano, se pensarmos em tudo o que já realizou.

Os cineastas que filmam muito, como Allen, erram mais. Mas realizadores como Allen têm uma assinatura tão marcante e fazem cinema como tanto charme que é sempre bom ver seus filmes. Até os ruins, como Um Dia de Chuva em Nova York.

Golpe de Sorte em Paris oscila entre a comédia e o drama. É sobre o papel do acaso na vida das pessoas. Também é sobre sexo, amor, casamento, fidelidade, poder. A trama é construída em cima de um triângulo amoroso e tem um desfecho surpreendente.

Vi Golpe de Sorte em Paris numa sessão de sábado à noite. Tinha um bom público na sala. As pessoas ainda saem de casa para ver Woody Allen no cinema. Isso é bom no meio do lixo que esses complexos exibidores oferecem.

Golpe de Sorte em Paris não é um grande Woody Allen, mas é diversão garantida.