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Pediatra investigado por estupro cometia abusos enquanto ouvia pulmão das crianças, afirmam mães

Fernando Cunha Lima foi denunciado por estupro de vulnerável.. Reprodução/TV Câmara

Mães relatam em uma série de depoimentos à Polícia Civil da Paraíba estupros que as filhas sofreram durante consultas de rotina com o pediatra Fernando Paredes Cunha Lima. Pelo menos em três casos, as mães narram que os abusos aconteciam dentro do consultório, com as vítimas em cima de uma maca, quando o médico obstruía a visão delas ou fazia a ausculta do pulmão das crianças. O pediatra é investigado por estupro de vulnerável desde que a mãe de uma menina de 9 anos denunciou o crime no dia 25 de julho.

O Jornal da Paraíba teve acesso aos depoimentos de três mães, duas sobrinhas e uma vítima. Uma menina de 4 anos era atendida desde o nascimento e outra de 9 anos desde os 9 meses. A terceira, vítima aos 7 anos, passou a ser atendida pelo médico aos 2 anos, após outras pessoas recomendarem o profissional. As sobrinhas de Fernando Cunha Lima afirmam ter sido abusadas aos 10 anos. Uma quarta mãe também denunciou o caso, mas o Jornal da Paraíba não teve acesso.

Na quinta-feira (8), a defesa do pediatra emitiu uma nota declarando que o médico é inocente e que está sendo “acusado injustamente”. Informou ainda que Fernando Cunha Lima vai prestar esclarecimentos e colaborar com as investigações. Após faltar a dois depoimentos alegando problemas de saúde, o médico compareceu nesta sexta-feira (9) à Delegacia de Repressão aos Crimes contra Infância e Juventude e foi ouvido, mas os detalhes não foram divulgados porque o processo está em segredo de justiça.

As mães ficaram sem reação após presenciar os abusos e uma vítima contou que estava assustada. Uma mãe disse que, ao perceber o abuso, falou ao médico que a criança não estava confortável e retirou a filha do consultório, mas não denunciou por medo ou por pensar que ninguém acreditaria no relato dela.

Uma vítima de apenas 9 anos chegou a relatar para mãe que estava sentindo dores na região genitália após o abuso, mas não contou antes por medo e vergonha.

Em entrevista à TV Cabo Branco, o superintendente da Polícia Civil em João Pessoa, Cristiano Santana, afirmou que os depoimentos possuem uma “convergência” entre si.

“O crime nunca acontecia na primeira consulta. Havia uma relação de confiança na mãe que leva a filha num pediatra”, afirmou.

Sobrinhas do médico também denunciaram abusos

Gabriela conversou com a TV Cabo Branco.. Reprodução/TV Cabo Branco

Após as investigações contra o médico se tornarem públicas através da imprensa, outras vítimas decidiram denunciar o médico, incluindo duas sobrinhas de Fernando Cunha Lima, que afirmam terem sido abusadas com aproximadamente 10 anos de idade. De acordo com as mulheres, os abusos aconteciam em uma casa de férias do médico, em Cabedelo, ou na própria casa das vítimas, no Rio Grande do Norte.

Uma das sobrinhas relata que foi abusada em pelo menos três ocasiões diferentes e ele ainda tentou uma quarta vez, mas ela afirma que empurrou o médico. Ela ainda diz que uma terceira familiar do pediatra contou para as vítimas que também foi abusada pelo médico na infância, mas ela não prestou depoimento à Polícia.

As duas sobrinhas foram incluídas no processo como testemunhas, porque os crimes contra elas já prescreveram, devido ao lapso temporal entre o crime, em 1991, e a denúncia. Porém, os depoimentos delas contribuem a dar embasamento ao inquérito.

A denúncia

A primeira denúncia formal de estupro de vulnerável contra o pediatra Fernando Cunha Lima aconteceu no dia 25 de julho e foi tornada pública nesta quarta-feira (7).

A mãe da criança de 9 anos, que estava no consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as partes íntimas da criança. Ela informou que na ocasião imediatamente retirou os dois filhos do local e foi prestar queixa na Delegacia de Polícia Civil.

Com a repercussão do caso, uma sobrinha do suspeito revelou que também foi abusada quando também tinha 9 anos, na década de 90, assim como suas duas irmãs. As denúncias, assim, indicam que os crimes aconteceriam há pelo menos 33 anos, já que o relato de uma das sobrinhas fala de um estupro que teria sido cometido em 1991.

O Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) informou nessa quarta-feira (7) que abriu uma sindicância para apurar o caso.

A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do qual Fernando Cunha Lima era diretor, decidiu suspendê-lo e afastá-lo de suas funções diretivas.

A Sociedade Paraibana de Pediatria disse que acompanha a apuração dos fatos pela polícia e pelo CRM.