Uma série de depoimentos que vêm sendo colhidos nos últimos dias fez a Polícia Civil da Paraíba começar a traçar uma espécie de padrão, um “modus operandi” praticado pelo médico pediatra Fernando Paredes Cunha Lima, que é suspeito de uma série de estupros de vulneráveis realizados pelo menos nos últimos 33 anos.
A informação foi confirmada pelo delegado Cristiano Santana, superintendente da Polícia Civil, ao destacar que as vítimas costumam ser meninas e ter todas entre 4 e 9 anos no momento em que foram abusadas.
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Cristiano explicou que houve uma primeira denúncia em 25 de julho e que já naquela data um inquérito criminal foi aberto para investigar o caso. Mas foi a partir de terça-feira (6), quando a investigação se tornou pública, que novas vítimas se apresentaram espontaneamente à Delegacia de Repressão a Crimes contra a Infância e a Juventude para darem seus próprios depoimentos. “Outras meninas, ao ver a denúncia formalizada pela primeira mãe, encorajaram-se e procuraram a delegacia”, destacou.
De acordo com ele, os depoimentos possuem “muitas convergências entre si”. O delegado conta que, em geral, e ainda de acordo com os diferentes depoimentos colhidos, o médico costumava agir no consultório, durante atendimentos e exames de rotina, com a mãe da vítima presente ao local, mas aproveitando algum momento de distração dessa.
“A dinâmira era muito parecida. Existem similaridades entre os casos”, completa.
Ele enfatizou, ademais, que o crime tem o agravante de ser provocado a partir de uma grave quebra de confiança, justamente por causa da condição de pediatra do suspeito. “O crime nunca acontecia na primeira consulta. Havia uma relação de confiança na mãe que leva a filha num pediatra”.
Por fim, ele disse que Fernando Cunha Lima, em tese, praticava “atos libidinosos diversos à conjunção carnal”, o que pela legislação vigente já se enquadra em estupro.
Já a delegada Isabel Costa, da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Infância e a Juventude, que está a frente do caso, seis vítimas, incluindo duas sobrinhas do pediatra, já prestaram depoimentos formais e foram incluídas no processo como testemunhas. Isso porque os crimes contra elas já prescreveram, devido ao lapso temporal entre o crime e a denúncia, mas que os depoimentos delas contribuem a dar embasamento ao inquérito.
Procurada pela reportagem, a defesa do pediatra emitiu uma nota declarando que o pediatra é inocente e que está sendo “acusado injustamente”. Informou ainda que Fernando Cunha Lima vai prestar esclarecimentos e colaborar com as investigações, e que só não fez isso ainda por questões de saúde.
Entenda o caso
A primeira denúncia formal de estupro de vulnerável contra o pediatra Fernando Cunha Lima aconteceu no dia 25 de julho e foi tornada pública na quinta-feira (6).
A mãe da criança, que estava no consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as partes íntimas da criança. Ela informou que na ocasião imediatamente retirou os dois filhos do local e foi prestar queixa na Delegacia de Polícia Civil.
Com a repercussão do caso, uma sobrinha do suspeito revelou que foi abusada quando também tinha 9 anos, na década de 1990, assim como suas duas irmãs. As denúncias, assim, indicam que os crimes aconteceriam há pelo menos 33 anos, já que o relato se refere a um estupro que teria sido cometido em 1991.
O Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) informou nessa quarta-feira (7) que abriu uma sindicância para apurar o caso. Já a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do qual Fernando Cunha Lima era diretor, decidiu suspendê-lo e afastá-lo de suas funções diretivas.