O médico Fernando Paredes Cunha Lima, investigado por estupro de vulnerável, é um pediatra famoso de João Pessoa com uma ampla atuação pública. Além de médico, ele também é escritor e faz parte de uma tradicional família do estado. O Jornal da Paraíba responde quem é Fernando Cunha Lima.
Entre as cinco denúncias formalizadas contra ele na Delegacia de Repressão a Crimes contra a Infância e Juventude, três foram de mães de crianças que foram suas pacientes e outras duas foram de sobrinhas dele.
Segundo o advogado das vítimas, Bruno Girão, existem cerca de 20 pessoas que entraram em contato com ele relatando novas acusações. Porém, não houve formalização de denúncias. A delegada Isabela Emanuela preferiu não gravar entrevista porque o caso está em segredo de justiça.
Os advogados do pediatra emitiram nota defendendo a tese de que as denúncias contra ele são infundadas e que Fernando vai esclarecer tudo assim que possível.
Quem é Fernando Cunha Lima?
Fernando Cunha Lima tem 81 anos e teve inscrição como médico registrada pela primeira vez no Conselho Regional de Medicina (CRM) em 1971, no Distrito Federal, mas pediu transferência para o estado da Paraíba dez dias depois. Ele atua como pediatra e tem uma clínica em Tambauzinho, em João Pessoa.
O pediatra também fazia parte da diretoria da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de João Pessoa (APAE). Após a divulgação das denúncias, ele foi afastado da instituição, e a APAE informou que não atuava como médico no local desde 2022. A associação disse, ainda que, quando trabalhou como voluntário, realizava consultas exclusivamente na presença de familiares e membros especializados da equipe multiprofissional.
Ele também é escritor e poeta, com diversos livros publicados, entre eles “Fernando em Pessoa”, “Girassóis urbanos” e “Sonetos com nome de Soneto”.
Parte de uma tradicional família da Paraíba, Fernando Cunha Lima é irmão de Arthur Cunha Lima, conselheiro afastado do Tribunal de Contas da Paraíba após ser investigado pela Operação Calvário, da Polícia Federal, que apura desvio de recursos da saúde e educação por meio de Organizações Sociais.
Arthur Cunha Lima é pai de Gabriela Cunha Lima, sobrinha do pediatra Fernando Cunha Lima que resolveu relatar que sofreu abuso sexual pelo tio quando ela tinha 9 anos, em 1991.
Ela relatou à TV Cabo Branco que contou o caso para a família apenas em 1993, mas que na época não houve uma denúncia formal, apenas um rompimento familiar entre seu pai, Arthur Cunha Lima, e o irmão dele, o pediatra Fernando Cunha Lima. Segundo o relato, as duas irmãs de Gabriela também foram vítimas do tio.
Homenagem com a Comenda Poeta Ronaldo Cunha Lima
Em 2015, Fernando Cunha Lima foi homeageado pela Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), com a Comenda Poeta Ronaldo Cunha Lima, que leva o nome do falecido ex-governador da Paraíba (primo de Fernando). A Comenda tem o intuito de reconhecer e premiar ações que dignifiquem o cidadão, a sociedade, serviços prestados de maneira relevante.
O vereador Bruno Farias, autor da homenagem na época, declarou que um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) será apresentado para revogar e tornar sem efeito a Comenda Poeta Ronaldo Cunha Lima concedida a Fernando Cunha Lima.
“Nós fizemos na época um check-list, pesquisando sobre as certidões cíveis, criminais. […] Em todas as esferas e instâncias da justiça, até aquele instante, nada absolutamente nada, desabonava a conduta do médico. Até porque a sociedade desconhecia os fatos que foram trazidos e que, repito, chocaram e deixaram a todos perplexos”, justificou o vereador Bruno Farias, nesta quinta-feira (8), na Câmara de João Pessoa.
A denúncia
A primeira denúncia formal de estupro de vulnerável contra o pediatra Fernando Cunha Lima aconteceu no dia 25 de julho e foi tornada pública nesta quarta-feira (7).
A mãe da criança de 9 anos, que estava no consultório, disse em depoimento que viu o momento em que ele teria tocado as partes íntimas da criança. Ela informou que na ocasião imediatamente retirou os dois filhos do local e foi prestar queixa na Delegacia de Polícia Civil.
Com a repercussão do caso, uma sobrinha do suspeito revelou que também foi abusada quando também tinha 9 anos, na década de 90, assim como suas duas irmãs. As denúncias, assim, indicam que os crimes aconteceriam há pelo menos 33 anos, já que o relato de uma das sobrinhas fala de um estupro que teria sido cometido em 1991.
O Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) informou nessa quarta-feira (7) que abriu uma sindicância para apurar o caso.
A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do qual Fernando Cunha Lima era diretor, decidiu suspendê-lo e afastá-lo de suas funções diretivas.
A Sociedade Paraibana de Pediatria disse que acompanha a apuração dos fatos pela polícia e pelo CRM.