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João Pessoa é uma cidade para envelhecer? Cerca de 14% da população da capital é idosa

O Rio Sanhauá foi o berço do nascimento da capital paraibana há 439 anos. Cidade que cresceu e amadureceu entre a mata, o rio e o mar. Chega a essa idade atraindo também quem vem de outros cantos do país. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, João Pessoa apresentou um crescimento representativo na quantidade de moradores em 2022.

Uma faixa etária específica se destaca na multidão: os idosos representam 14% da população pessoense, formada por mais de 830 mil habitantes. O índice de envelhecimento na capital, que em 2010 era de 31,6, saltou em 2022 para 52,2. Isso significa, de acordo com o IBGE, que são 52 idosos para cada 100 crianças e adolescentes e, quanto maior o indicador, mais envelhecida é a população.

Ana Lúcia e Alexandre Barone, aposentados e moradores de João Pessoa. Reprodução/TV Cabo Branco

Os dados mostram que há uma tendência de envelhecimento na capital.

O economia Amadeu Fonseca explica as consequência desses números. “Com a chegada dos idosos aqui na cidade, uma série de negócios podem ser impactados com esse público. A gente sempre fala muito sobre o setor de serviços que atende de forma generalizada, desde a área de saúde até a parte dos cuidadores e também setores do ponto de vista do comércio local, que são beneficiados, restaurantes, a parte do turismo também. Vários setores são impactados com a chegada desse público aqui na cidade. Uma vez que essas pessoas vão migrando para a nossa cidade, especialmente pela região, pela boa localização, a infraestrutura que a cidade já tem, então isso pode ser uma oportunidade também para outros negócios”, explica o economista.

Prédios em João Pessoa – Construção Civil. Paulo Cavalcanti/Arquivo Pessoal

Além das praias e a natureza, o custo de vida, ainda considerado acessível, atrai esses novos moradores. Ana Lúcia Barone e o marido, Alexandre Barone, vieram de São Paulo para morar em João Pessoa em 2018. O encanto com a cidade começou após o casal passar uma temporada de férias na capital. Foi naquele momento que Ana, aposentada da carreira de professora de história, e Alexandre, da área de logística, projetaram um novo estilo de vida que, segundo eles, só seria possível na capital paraibana.

“O que trouxe a gente aqui após aposentadoria foi ter uma qualidade de vida melhor, estar próximo ao mar, estar em uma cidade que não tem trânsito, estar usufruindo da aposentadoria com uma qualidade de vida boa”, explica Ana Lúcia.

A paixão pela cidade é tanta que Ana se especializou e hoje é guia de turismo, um trabalho que ela tem orgulho por trazer a possibilidade de apresentar a capital para outras pessoas.

“Tive a ideia de fazer um curso de guia, regional, pelo IFPB, e agora estou terminando o nacional, porque a minha intenção é realmente mostrar a cidade de João Pessoa, essa maravilha que é a cidade, uma cidade desenvolvida, uma cidade gostosa para se viver”, descreve Ana Lúcia.

Adjani Lucena, 81 anos, moradora do Lar da Providência. Reprodução/TV Cabo Branco

Adjani Lucena tem 81 anos. E resolveu que, nessa idade, queria um momento para si. Em 2013 preferiu viver com outros idosos no Lar da Providência, uma casa de apoio em João Pessoa.

“Tive minhas filhas, casaram, estão todos casados. Eu não quis morar com ninguém, acho que nós devemos viver uma vida em comunidade. Eles são novos, vão passear. Mas não me falta nada”, declarou.

O Lar da Providência existe há um século no bairro dos Estados. 62 idosos aposentados vivem no local e toda manutenção do espaço é feita por meio de doações e com ajuda de custo do governo estadual. Para a irmã Raimunda, que administra o espaço, a sensibilidade é essencial para lidar com pessoas de origens tão distintas e problemáticas sociais diversas.

“É o perfil de um idoso já muitas vezes acamado, ou que não consegue se cuidar sozinho. Então a grande maioria procura realmente colocar o idoso para ser cuidado. Para nós, é uma experiência em que a gente consegue proporcionar aos idosos que essa última fase da vida seja de qualidade, onde a gente cuida não só do físico mas do espiritual, para dar qualidade de vida para eles”, explica Raimunda.

Vivência que muda de acordo com o contexto social, econômico e racial. E também contextos emocionais.

A psicóloga Renata Toscano explica como isso se desenvolve. “A crença cultural onde não há valorização e respeito aos idosos e pelo processo de envelhecimento,que há essa negação, faz com que a pessoa não projete de forma positiva o seu envelhecimento, e quando chega para viver essa fase, acontece de uma forma não positiva. Acontece, muitas vezes, a negação, o isolamento, afastamento da família, você perde socialmente o seu valor vital, e mexe com o seu psicológico”, enfatiza a psicóloga.

Reprodução/TV Cabo Branco

Em João Pessoa também funcionam os lares de longa permanência. O Cidade Madura, um condomínio fechado na capital, reúne diversos idosos, cada um em sua casa, para proporcionar uma terceira idade mais digna.

O espaço é uma ferramenta pública que existe há dez anos. O condomínio tem 40 casas de aproximadamente 28 metros quadrados.

O condomínio Cidade Madura abriga quem passou por dificuldades financeiras. Esse suporte aos idosos por meio do programa habitacional é algo, inclusive, previsto como um direito na Constituição Brasileira.

A gerente executiva de proteção social básica da Secretaria de Desenvolvimento Humano do Estado, Gilmara Andrea, detalha como o espaço funciona. “Essas unidades habitacionais são adaptadas para a pessoa idosa, existe toda parte de acessibilidade, no banheiro, que já é projetado com toda a parte de barras necessária, a cadeira de apoio para o banho, a dimensão que o banho tem que ter para caso necessário o idoso use uma cadeira de roda, então já é projetado, com acessibilidade, com sala, quarto, cozinha e banheiro”, especifica.

Hélia Gomes tem 79 anos e mora no Cidade Madura. Reprodução/TV Cabo Branco

Em 2017, Hélia Gomes, de 79 anos, foi morar no residencial após o marido conseguir uma vaga, já que a renda não dava conta de proporcionar uma moradia digna. Com saudade, ela relembra do companheiro, que já faleceu, mas respira aliviada por ter a companhia de outros idosos que vivem no condomínio.

“O que trouxe a gente aqui após aposentadoria foi ter uma qualidade de vida melhor, estar próximo ao mar, estar em uma cidade que não tem trânsito, estar usufruindo da aposentadoria com uma qualidade de vida boa”, explica Ana Lúcia.

Para acolher os idosos que chegam de forma mais digna e fazer jus ao local escolhido por muitos, João Pessoa precisa se preocupar com uma questão básica: o cuidado e a integridade de uma população que busca, a cada dia, um espaço para chamar de seu. Esse é o desejo de Ana Lúcia e Alexandre Barone, de Dona Hélia Gomes, de Adjani Lucena e de tantos outros que representam grande parte da identidade de João Pessoa.