Livros de Ariano Suassuna marcam o legado do dramaturgo e romancista paraibano, cuja morte completa dez anos em 2024. Em homenagem a ele, o Jornal da Paraíba preparou uma lista com suas obras publicadas ao longo de sua carreira. Suassuna, que morreu de parada cardíaca em Pernambuco, escreveu mais de 30 obras desde a década de 1940, que foram compiladas em diversos livros.
Parte das obras de Ariano foram republicadas pela editora Nova Fronteira e, dentre as obras publicadas pelo dramaturgo algumas delas foram adaptadas para o cinema e para a televisão, como:
- “O Auto da Compadecida” (1987 e 1999);
- “A Farsa da Boa Preguiça” (1995);
- “A Pedra do Reino” (2007); e
- “O Auto da boa Mentira” (2021).
Lista de livros publicados por Ariano Suassuna
Uma Mulher Vestida de Sol (1947)
“Uma Mulher Vestida de Sol” foi a primeira peça escrita por Ariano, em 1947, e apresenta como temas centrais o conflito pela delimitação de terras, a questão da palavra de honra e o amor impossibilitado pela luta entre clãs.
Ariano deixa bastante claras as influências recebidas do Romanceiro Popular Nordestino como do teatro espanhol, de Calderón a García Lorca, e da tragédia elisabetana, sobretudo com a inclusão de dois personagens risíveis ― o juiz e o delegado ― que proporcionam instantes de leveza à atmosfera predominantemente pesada da peça.
O Desertor de Princesa/Cantam as Harpas de Sião (1948)
Em sua versão original, de 1948, ainda sob o título “Cantam as Harpas de Sião”, foi esta a primeira peça de Ariano Suassuna a ser encenada. Ela estreou em 18 de setembro do mesmo ano, com direção de Hermilo Borba Filho e cenários e figurinos assinados por Aloísio Magalhães.
A peça é ambientada durante a guerra de Princesa, ocorrida no Sertão da Paraíba, movimento separatista já totalmente inserido no contexto das lutas políticas que antecedem a Revolução de 1930.
Em reescritura realizada em maio de 1958, exatos dez anos após a conclusão da primeira versão, Suassuna substituiu o título, mais poético, por outro, mais objetivo, mais diretamente ligado aos fatos que constituem a trama.
Os Homens de Barro (1949)
“Os Homens de Barro” foi a terceira peça teatral escrita por Ariano Suassuna, sobrevindo a “Uma Mulher Vestida de Sol” (1947) e “O Desertor de Princesa” (1948).
Trata-se de uma tragédia de viés moderno, na qual o sofrimento dos personagens não é resultado de imponderáveis armadilhas do destino ou inescapáveis desígnios dos deuses, como era comum nas tragédias gregas. A dor e a morte resultam de uma intrincada sobreposição de fatores psicológicos e de fatores socioeconômicos.
Sem abdicar do caráter transcendental predominante nas tragédias, Ariano trás em segundo plano, uma crítica incisiva às injustiças sociais no sertão nordestino, mostrando como os poderosos agem para desarticular movimentações coletivas potencialmente ameaçadoras ao poder estabelecido.
Auto de João da Cruz (1950)
Nessa obra, as forças celestiais e infernais travam uma batalha por uma alma vacilante, enquanto o espetáculo se desenrola em um julgamento cósmico.
O embate entre o divino e o demoníaco ressoa universalmente, capturando a tensão inerente ao eterno conflito moral. João da Cruz, o protagonista, torna-se o veículo para explorar as questões mais profundas da condição humana, enquanto as forças do bem e do mal disputam sua alma.
“O Auto de João da Cruz” faz indubitavelmente um pendant com o “Auto da Compadecida”, cinco anos posterior, mas se nesta obra o elemento cômico domina tudo, nas falas do primeiro encontramos vários dos momentos de maior lirismo na obra de Ariano Suassuna.
Auto da compadecida (1955)
“O Auto da Compadecida” é uma peça teatral em forma de Auto em três atos, escrita em 1955. A turma nordestina mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas.
Além disso, a obra de Ariano apresenta na escrita traços de linguagem oral presentes nas falas de personagens, sua classe social, e apresenta também regionalismos relativos ao Nordeste. Esta peça projetou Ariano em todo o Brasil e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
A História do Amor de Fernando e Isaura (1956)
Escrita em 1956, mas publicada apenas em 1994, Ariano conta a história do amor proibido que teve um fim trágico, ambientado em Alagoas na primeira metade do século XX.
Ariano se inspira na lenda de Tristão e Isolda, além de colocar todas as referências do que o autor chamava de Romance Popular Nordestino.
O dramaturgo usou essa obra como um exercício para dar início à construção da obra “A Pedra do Reino”, que veio a ser publicada em 1971.
O Santo e a Porca (1957)
Nesta peça teatral, escrita em 1957 e encenada 1958, no Rio de Janeiro, Ariano conta a história de Seu Euricão, um velho fazendeiro do interior de Pernambuco, homem de grande avareza. Devoto de Santo Antônio, ele mantém em casa, sob constante vigilância, uma porca recheada com dinheiro, guardado de toda uma vida.
Além disso, o autor não apresenta o vício da avareza apenas pelo que nele há de risível, a exemplo do que fizeram Plauto e Molière – na peça “O Avarento” – mas, também, por seu aspecto doloroso, tomando o ponto de vista de quem o possui.
O Casamento Suspeitoso (1957)
Nesta obra literária, Ariano Suassuna apresenta ainda, como pano de fundo, uma visão religiosa do homem e do mundo com enfoque no pecado da luxúria. A obra conta com a estética circense, já presente no “Auto da Compadecida”, na dupla de personagens formada por Cancão e Gaspar, herdeiros diretos dos palhaços que marcaram o autor desde a infância.
Valendo-se de jogos de cena consagrados pela tradição da comédia mediterrânica, Ariano Suassuna reafirma neste texto sua mestria absoluta no domínio das situações risíveis e dá continuidade ao seu projeto de realizar um teatro brasileiro erudito a partir de elementos extraídos da cultura popular.
A Pena e a Lei (1959)
Nesta peça, a tradição nordestina dos cordéis e do teatro de bonecos se entrelaçam de forma magistral, levando-nos do profano ao sagrado, do trágico ao cômico, num equilíbrio envolvente de temas e linguagens.
Na essência de uma farsa brilhante, verdades difíceis são reveladas sob uma luz que incita o riso, mas que também nos impele a ponderar.
Enquanto as personagens nos arrancam gargalhadas, Suassuna nos convida a refletir sobre a imperfeita justiça dos homens, contrastando-a com a inabalável justiça divina.
Neste palco, as camadas da sociedade são escancaradas e a realidade brasileira é desnudada com astúcia e coragem.
Farsa da Boa Preguiça (1961)
A “Farsa da Boa Preguiça” compõe a trindade das peças mais representativas da dramaturgia de Ariano Suassuna, junto com o “Auto da Compadecida” e “A Pena e a Lei”, e, como elas, bebe na fonte do universo mítico e poético do Romanceiro Popular Nordestino.
Montada pela primeira vez em 1961, a peça foi inteiramente escrita em versos, e traz, como um dos seus protagonistas, o poeta popular Joaquim Simão, escritor de cordel, cantador e adepto do ócio criativo ― a boa preguiça de Deus, contrária à preguiça do Diabo.
Peça preferida do próprio autor, a “Farsa” conserva o tom irônico e bem-humorado das comédias de Ariano e é considerada por parte da crítica como “a súmula de todo o seu teatro”.
A Caseira e a Catarina (1962)
O juiz Orlando Sapo e o oficial Severino Bisaquinho encontram um caixão com um defunto desconhecido em sua sala de tribunal.
Eles também se deparam com Adélia, que trouxe um porco para reivindicar danos causados por ele, pertencente originalmente à mulher Carmelita. Adélia teme represálias de Carmelita. Orlando tenta resolver a situação do defunto, do porco e o conflito entre as mulheres.
O Sedutor do Sertão (1966)
A narrativa de ‘O Sedutor do Sertão’ foi escrita durante a criação do ‘Romance d’A Pedra do Reino’, não à toa apresenta vários pontos de contato com a obra-prima do autor, a começar pelo protagonista, o anti-herói cômico Malaquias Pavão, irmão bastardo de Pedro Dinis Quaderna.
A ideia para o mote do enredo é retirada de uma passagem de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, a quem o livro é dedicado: um golpe para enriquecer contrabandeando cachaça. À diferença do clássico euclidiano, porém, o texto de Suassuna carrega nas tintas do humor, apresentando o riso como uma forma de escape de nossas recorrentes mazelas políticas.
Uma curiosidade é que a obra surgiu de um convite recebido por Ariano Suassuna para levar uma história sua às telas de cinema. O filme, no entanto, acabou não se realizando por falta de verbas.
A Pedra do Reino (1971)
Esse romance publicado originalmente em 1971, narra a história de Dom Pedro Dinis Ferreira, o Quaderna, apresentando seu memorial de defesa perante o corregedor, uma vez que foi preso por subversão em Taperoá, interior da Paraíba.
O narrador-personagem conta a saga de sua família e se declara descendente de legítimos reis brasileiros, castanhos e “cabras” da Pedra do Reino do Sertão, sem relação com os “imperadores estrangeirados e falsificados da Casa de Bragança”. Fala ainda do seu envolvimento com as lutas e desavenças políticas, literárias e filosóficas no seu reino.
Iniciação à estética (1975)
Esta obra foi escrita no tempo em que Ariano Suassuna lecionava Estética na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), este livro é uma iniciação à disciplina, aqui entendida como uma Filosofia da Beleza e, consequentemente, da arte.
São apresentadas desde as opções iniciais da Estética e seus métodos mais frequentes de estudo até uma reflexão geral sobre o universo das artes, passando pelas principais teorias sobre a beleza surgidas ao longo do tempo, de Platão aos nossos dias.
Com uma linguagem bastante acessível e uma abordagem didática, esta é uma obra fundamental para todos aqueles que pretendem se iniciar no campo da Filosofia da Arte.
O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão (1977)
A História de “O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão”, ou, mais simplesmente, “O Rei Degolado”, dá sequência à narrativa de Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, o Quaderna, personagem-narrador de “A Pedra do Reino”.
Quaderna, no segundo depoimento ao Juiz Corregedor, conta a sua infância no sertão da Paraíba, apresentando, de forma mais detalhada, personagens que já haviam aparecido em “A Pedra do Reino” e foram fundamentais na sua formação. Aprofunda, ainda, a dimensão mítica do seu relato, investindo na criação de uma mitologia brasileira, sobretudo a partir dos mitos de origem indígena e africana.
As Conchambranças de Quaderna (1987)
“As Conchambranças de Quaderna” marcou o retorno de Ariano Suassuna à escrita teatral, após um afastamento de mais de 25 anos. Dom Pedro Dinis Quaderna, traz a público algumas de suas lembranças, contando-nos três imbróglios de que tomou parte e nos quais teve de fazer uma série de conchavos para resolver as situações a contento, tirando proveito de tudo e de todos.
Cada um dos três atos, portanto, funciona como uma peça independente, e é Quaderna quem costura os episódios, proporcionando a unidade do espetáculo.
Igarassu: Origem, Cenários E Cores (1998)
Neste livro, Ariano celebra os quinhentos anos do descobrimento do Brasil, a cidade de Igarassu, um dos principais polos dos primeiros contactos luso-brasileiros e um “museu-vivo” no património artístico e cultural destes dois povos.
Seleta em Prosa e Verso (2007)
Esta obra literária é uma coletânea de textos variados de Ariano Suassuna. Coordenada por Paulo Rónai e com textos selecionados por Silviano Santiago, conta ainda com um depoimento do autor.
Entre os poemas contidos neste volume estão “Fazenda Acahuan (Lembranças de meu pai)”, “Infância” e “Lápide”. Os contos escolhidos são “O casamento” e “O caso do coletor assassinado”. E as peças, por sua vez, são “O Rico Avarento”, 1954; “O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna”, 1958; e “O Castigo da Soberana”, 1953 e “Torturas de um coração (Entremez para mamulengo)”, de 1951.
Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores (2014)
Dividido nos livros “O Jumento Sedutor” e “O Palhaço Tetrafônico”, o “Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores” foi a última obra concluída de Ariano e é uma espécie de testamento do autor, que adiciona na narrativa elementos clássicos de seu teatro, de sua poesia, prosa de ficção e produção artística.
Na obra, Antero Savedra (D. Pantero) ministra “aulas espetaculosas” com ensinamentos e encenações, nas quais revisita obras e personagens de Suassuna. Escritor frustrado, Savedra sonha em fazer uma grande obra a partir do sucesso literário de seus irmãos famosos: Auro Schabino, romancista, Adriel Soares, dramaturgo, e Altino Sotero, poeta. As ilustrações do livro são do próprio Ariano.
Teatro completo (2018)
O Box Teatro Completo de Ariano Suassuna reúne todas as suas peças teatrais em um quatro volumes: Comédias, Tragédias, Entremezes e Teatro Traduzido. Neles, há textos inéditos, alguns jamais encenados, peças editadas com regularidade e cujo número de montagens não se pode precisar, outras inteiramente reescritas pelo autor e duas encontradas recentemente no acervo de Ariano, que não constavam de levantamentos anteriores.
A Pensão de Dona Berta e Outras Histórias para Jovens (2021)
O poeta e professor universitário Carlos Newton Júnior selecionou algumas obras que foram publicadas no “Almanaque Armorial”, uma coluna que Ariano mantinha no “Jornal da Semana”, e em outros periódicos. São lembranças de juventude, acontecimentos vividos e narrados por seus irmãos e mais algumas inusitadas narrativas de personagens como o médico Noel Nutels e o escritor Rubem Braga.
Vida-Nova Brasileira e Outros Textos em Prosa e Verso Poemas (2022)
Ao mergulhar nesta seleção abrangente de gêneros literários que encantaram Ariano, somos guiados por uma visão panorâmica de sua criação.
Desde o cativante título que dá nome à antologia, uma fusão de prosa e poesia, até contos envolventes, uma seleção rica de poemas e uma peça teatral que desafia os limites da forma poética. E como um tesouro escondido, você encontrará o cordel inédito Romance de João e Maria.
Outras obras literárias
Fora as principais obras de Ariano Suassuna, o paraibano também publicou teses de livre docência como “A Onça Castanha e a Ilha Brasil”, em 1976; as poesias “O Pasto Incendiado”, de 1970; “Sonetos Com Mote Alheio”, em 1980; “Ode”, em 1955; e outras publicações como “O Arco Desolado”, 1952; “O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna”, 1958.