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Zezé Motta, que foi Xica da Silva no cinema e inspirou a Tigresa de Caetano, faz 80 anos

Foto/Reprodução/Facebook.

Cena 01. Cine Plaza, João Pessoa, uma tarde qualquer de 1976. “Xica da…Xica da…Xica da…Xica da Silva, a negra”. Zezé Motta em cena, deslumbrante, a voz e o violão de Jorge Ben. A sala cheia, e o público impactado com aquilo.

Xica da Silva, o filme de Cacá Diegues, estava entre os “subversivos” que o crítico José Carlos Avellar comentou no Jornal do Brasil. Creio que os outros eram Um Estranho no Ninho, de Milos Forman, e Ludwig, de Luchino Visconti.

Xica da Silva, com sua força extraordinária e seu grande apelo popular, parecia nos dizer: “Olha, o Cinema Novo, com seus caminhos tão difíceis, também conduziu a isto”. Quem foi testemunha sabe como era.

Cena 02. Teatro Santa Roza, João Pessoa, uma noite qualquer de 1978. “O sol não advinha, baby é magrelinha/O sol não adivinha, baby é magrelinha/No coração do Brasil, no coração do Brasil”. Zezé Motta no palco, vista bem de perto, a plateia cheia, e o público impactado com aquilo. 

Era a última das 10 semanas da primeira vez do Projeto Pixinguinha na Paraíba. A cada semana, uma dupla. No encerramento, o encontro tão belo quanto um pouco inusitado de Johnny Alf com Zezé Motta.

Johnny Alf vinha do tempo da Bossa Nova, com suas melodias refinadas, suas harmonias sofisticadas, seu jeito de cool de cantar e tocar piano. Foi talvez o primeiro a compor uma canção de temática homossexual no Brasil: Ilusão à Toa.

Zezé Motta, numa certa medida, era o oposto de Alf. Uma explosão no palco. Algo que dialogava tanto com o Chico Buarque de Trocando em Miúdos quanto com o Black Rio de Luiz Melodia, a que a gente foi apresentado ali na década de 1970.

“Muito prazer, eu sou Zezé/Uma rainha, uma escrava, uma mulher/Uma mistura de raça e cor/Uma vida dura mas cheia de sabor” – foi como Rita Lee e Roberto Carvalho fotografaram Zezé Motta numa canção que ela própria, Zezé, cantava naquelas noites inesquecíveis do Projeto Pixinguinha. Quem foi testemunha sabe como era.

Por muito tempo, se disse que Sônia Braga foi quem inspirou Caetano Veloso na letra de Tigresa, que é de 1977. Ela e ele namoraram, e, mais tarde, ele fez Trem das Cores para ela. 

Muitos anos depois, Caetano teria dito a Nelson Motta que a tigresa da sua canção não é Sônia Braga, é Zezé Motta. Mas Zezé e Caetano nunca namoraram, nem ela trabalhou no Hair, e, sim, na Roda Viva.

Lenda? Realidade? Quando a lenda é melhor do que a realidade, imprime-se a lenda.

Zezé Motta foi grande desde que começou. Zezé Motta permanece grande até hoje. No teatro, no cinema, na televisão, na música popular, no ativismo em defesa de pretas e pretos do Brasil.

Atriz e cantora, cantora e atriz, Zezé Motta, que nasceu pobre e foi batizada como Mariz José Motta de Oliveira, está fazendo 80 anos nesta quinta-feira, 27 de junho de 2024. Viva Zezé!